O projeto foi retirado de pauta na última
terça-feira (2), mas o deputado Anderson Ferreira (PR-PE) tentou
reapresentá-lo, o que não é permitido pelo Regimento Interno da Câmara. O
projeto só poderá entrar em pauta novamente em 2014.
“Tenho certeza que houve politização do tema”,
disse o presidente do Conselho de Ministérios Evangélicos de São Carlos,
o pastor Ismael da Silva. “Não existe ‘cura gay’. O que se queria é que
os profissionais da área de psicologia pudessem conversar sobre o tema.
Esses profissionais atendem a qualquer ser humano. Qual é o problema de
atender a quem é homossexual?”, questiona.
Para o pastor Ismael, houve uma deturpação do
assunto, o que na verdade era uma abertura para oferecer ajuda
profissional. “A igreja trata a homossexualidade com muita naturalidade.
Ela [a homossexualidade] existia antes de Cristo. A homossexualidade é
uma opção, ninguém nasce homossexual. Aprendemos isso. Ou você nasce
homem ou mulher. A igreja ajuda muito e respeita muito. Nós temos casos
nas igrejas de São Carlos em que as pessoas procuram ajuda”, explica.
“A igreja não discrimina ninguém pelas suas opções,
aliás amamos a todos e entendemos que os homossexuais, as lésbicas
precisam ser precisam ser alcançados pelo amor de Deus”, acrescenta.
O pastor acredita que boa parte dos homossexuais
carrega traumas de infância, quando foram submetidos a abusos. “Na
igreja em que congregamos têm três casos de pessoas que foram abusadas
pelos pais e tios que a igreja trata com ajuda pastoral e de psicólogos,
por isso acreditamos que a psicologia pode ajudar muito”.
MISERICÓRDIA – O pároco da
Catedral, padre José Luís Beltrame, afirma que a igreja católica apoia a
situação do povo em seus conflitos. “O parâmetro para os cristãos é o
evangelho, na caridade, no amor e na misericórdia, todos são amados,
independente das suas opções”, explica.
“Jesus é misericórdia e não exclui ninguém. A
iniciativa do projeto tem uma intenção boa, mas sempre tem aquele que
quer tirar proveito para desvirtuar o assunto”, acredita o padre em
referência as dimensões que o assunto tomou na mídia.
Tratar homossexualismo como doença é retrocesso, afirma psicóloga
A psicóloga Larissa Locachevic da Silva afirma que a
imprensa tratou o tema ‘cura gay’ de forma sensacionalista. Para ela, a
psicologia encara cada pessoa como única, com seus aspectos pessoais
que precisam ser considerados e trabalhados de forma individual com cada
paciente. “Sendo homossexuais ou heterossexuais, os pacientes precisam
ser considerados dentro do contexto em que vivem com suas
particularidades. Sabemos que na nossa sociedade atual os homossexuais
sofrem muito preconceito e recebem ‘rótulos’ devido sua orientação
sexual”, explica.
“Não vem ao caso avaliar se a sexualidade é uma
questão de escolha ou de nascença. O que deve ser enfatizado é que, homo
ou heterossexuais precisam ser respeitados no local em que trabalham,
na família, círculo de amigos e na sociedade como um todo”, complementa.
Larissa confessa que tratar o homossexualismo como
doença é um retrocesso. “Sabe-se que homossexualidade não é doença,
portanto não é passível de cura. A polêmica se criou porque as religiões
têm pontos de vistas diferentes, a ciência e a sociedade também. Temas
em que as pessoas não têm uma opinião comum geram sempre polêmica”,
acredita.
A psicóloga acredita que tratar homossexualidade
como doença pode criar efeitos colaterais como angústia, depressão e
outras sensações. “O preconceito para com os homossexuais já gera muita
angústia, depressão e até transtornos nessa população, pois se veem numa
sociedade onde não são aceitos por muitos. Tratá-los como doentes, que
precisam se curar, aumenta o preconceito, o tratamento diferente e a
falta de respeito”.
Larissa conclui que o código de ética do psicólogo
coloca que o trabalho do psicólogo deve se pautar no respeito e na
promoção da liberdade, dignidade, igualdade e integridade do ser humano,
apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos
Humanos. “Sendo assim podemos interpretar que nossa classe profissional
não deve ser conivente com o desrespeito ao próximo, independente da sua
sexualidade”.
Igreja tem suas histórias de ‘cura gay’
A reportagem tentou, nessa semana, conversar com
Roberto (nome fictício) que se mostrou reticente em conceder entrevista.
“São Carlos é uma cidade muito pequena. Fica difícil a exposição desse
jeito, prefiro não aparecer”, disse.
Hoje casado, pai de duas filhas e evangélico, ele
resume a sua história. “Como homossexual, fui escravo do sexo e das
drogas e foram os aconselhamentos da igreja que me ajudaram a sair desse
mundo”, explica.
O pastor Ismael da Silva também relata um caso de
conversão na sua igreja, a Assembleia de Deus, Ministério de Madureira.
Ele conta que uma mulher, aos 19 anos, era questionada sobre o fato de
não arrumar namorado. “Quando ingressou na universidade, ela se
relacionava com moças. Isso ocorreu durante uns 12 anos”.
A mulher, segundo o pastor Ismael, passou a
frequentar as reuniões. Depois de um tempo, expôs a sua condição.
“Sempre a respeitamos. Acreditamos que a palavra de Deus tem o poder de
mudar o ser humano”, explica. Hoje, a jovem tem 33 anos, conheceu um
fiel da igreja, é casada e tem dois filhos.
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